Cardeal "in pectore" nunca será conhecido

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"Nunca saberemos o nome do cardeal in pectore" (no peito), designado pelo Papa no consistório - reunião dos cardeais - de Outubro de 2003. E obviamente este hierarca secreto não participará no conclave. João Paulo II nem à beira da morte divulgou o seu nome [não colocou ex pectore], nem o deixou escrito no testamento ou em qualquer outro documento. "É um segredo que levou consigo para sempre", declarou o porta voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls.

A notícia foi dada ontem, depois de ser lido o testamento de João Paulo II, a ser publicado amanhã no original polaco, com traduções nas línguas mais usadas, internacionalmente. Um total de 15 páginas, escritas a partir de 1979, um ano depois de ter sido eleito Papa", declarou o porta voz da Santa Sé.

Aquele documento constitui a última mensagem do Papa à Igreja reflexões, pensamentos sobre a vida e a morte, a fé, a humanidade, a actualidade do Evangelho neste terceiro milénio. Mas, segundo indicações do Vaticano, não contém nada de pragmático ou operativo, sobre o cardeal in pectore -não foi revelado o seu nome por razões de segurança ou pessoais - nem indicações sobre herdeiros.

Conclave. Na quarta Congregação do Colégio Cardinalício, reunidos na Sala Nova do Sínodo, foi ontem decidido o dia 18 (uma segunda-feira) para início do conclave. Os cardeais reúnem-se para a missa às 1000, estando todos hospedados na Santa Casa de Santa Marta, no interior do Estado do Vaticano. À tarde, e em regime de total isolamento com o exterior, decorrerá a primeira votação.

E, enquanto continuam a chegar a Roma os cardeais que deverão eleger o novo Sumo Pontífice católico, começam a delinear-se as primeiras divisões em relação aos candidatos. Só depois das exéquias solenes de João Paulo II, as discussões entrarão na fase aguda e as alternativas serão mais facilmente delineadas e decididas.

Entre as previsões, surgem sempre com mais possibilidades os cardeais de Itália ou da América Latina. Um dos favoritos é sem dúvida o cardeal Cláudio Humes, de S. Paulo, Brasil, o maior país latino- -americano de uma região que detém o maior crescimento de católicos no mundo.

Como era previsível, o grande favorito do lado italiano é o cardeal Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão, uma das dioceses mais importantes da Itália. Esta hipótese reúne os votos de forças e linhas diversas, desde o cardeal Karl Lehman, presidente da conferência episcopal alemã, Godfried Daneels, da Bélgica, Walter Kasper, responsável no Vaticano pelo Diálogo Ecuménico, Roger Mahoney, arcebispo de Los Angeles, e Miloslav Ulk, arcebispo de Praga. Estes cardeais também poderão pensar em escolher um papa "progressista". É que o cardeal Tettamanzi obteve os favores da Opus Dei, como João Paulo II durante os anos de seminário na Polónia, sendo uma das prováveis escolhas dos religiosos mais conservadores.

Ao mesmo tempo, a Comunidade de Santo Egídio, muito próxima deste Papa, pode dar um forte apoio aos cardeais africanos ou da Ásia, a quem têm ajudado tanto em questões políticas como religiosas. Refira-se que o último grande encontro da Comunidade de St. Egídio, em Setembro, em Milão, foi presidida pelo cardeal Tettamanzi, que foi o "redactor-fantasma" do Papa.

Preparação. A Praça de S. Pedro começa a preparar-se para as exéquias solenes de João Paulo II. Os operários do Vaticano iniciaram a colocação de cadeiras nos sectores mais próximos do altar, um espaço mais reduzido por razões de segurança, onde será celebrada a missa fúnebre.

Ontem à noite, o presidente norte-americano, George W. Bush, acompanhado do pai e da mulher, prestou uma última homenagem ao Papa João Paulo II.

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